Na segunda-feira (02/06), Djonga liberou para o público um trecho do seu novo show, no show de lançamento do álbum Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto.

Quase dois anos depois do lançamento de Inocente DemoTape, Djonga presenteou a cena com seu novo álbum Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto.
Arte que move, mas não sacia
O primeiro álbum de Djonga, Heresia, foi lançado em 2017. Desde então, foram incontáveis feats, clipes, que dão forma a uma das trajetórias mais consistentes do rap nacional, com quase um álbum inédito por ano.
Dito isso, fica evidente que fome é essa que Djonga quer falar em seu oitavo álbum de estúdio. Letras diretas, cheias de referências e punchlines que não são novidade para o seu público.
Em Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto, Djonga junta às suas letras afiadas um visual de peso que, somados, passam a mensagem como só uma verdadeira obra de arte consegue.
Exu, lágrimas de ouro e o Ayam Cemani
Ayam Cemani é uma espécie de galinha que possui penas, bico, pernas, pele e até a carne pretos. É um galo dessa espécie que aparece nos ombros de Djonga na capa de Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto. Considerado sagrado em muitas culturas, o animal é muito associado com Exu nas religiões de matriz africana.
Ao lado dessa figura, Djonga chora ouro. Nessa imagem, é como se a dor virasse riqueza, como se a fome, ao invés de ser fraqueza, se transformasse em poder. A capa cumpre seu papel, sintetizando muito do que o álbum propõe: a fome como força vital.

Exu, nesse contexto, aparece não apenas como referência religiosa, mas como símbolo de encruzilhada, de movimento, de abertura de caminhos. Ao trazer Exu para o centro da estética do álbum, Djonga assume uma visão de mundo que se ancora no sagrado ancestral para mirar o futuro.
Djonga em casa
No ao vivo, essa presença de Exu, da fome e da força ancestral se desdobra com ainda mais intensidade no trecho do show liberado no YouTube. Nele, Djonga apresenta as faixas FOME e REAL DEMAIS no show de lançamento do álbum, na sua cidade, Belo Horizonte.

No trecho do show liberado no YouTube. A apresentação chega com força de espetáculo: com banda ao vivo, coral, a bailarina Iara Fernandes/Amerikana, mulher trans negra, referência da cena Vogue e Ballroom de BH e elementos visuais incríveis, vindos da direção de fotografia de Túlio Cipó e direção de arte de Iulle Pieroni, André Martins e Daniel Bowie.
Djonga começa o show introduzindo a figura de Exu e sua fome, e, a partir dali, ele não só canta: ele evoca e conduz um transe coletivo, um chamado. Entre as performances de FOME e REAL DEMAIS, o público assiste Djonga sendo coroado. Nesse momento, o show é ritual, o palco é altar. Em meio a isso, Djonga é mensageiro, como Exu.
Fome de quê?
Com Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto, Djonga entrega um álbum digno do peso da sua trajetória: um disco de posicionamento.
A fome aqui não é fraqueza, é movimento. E, ao assumir essa fome como parte inseparável de sua trajetória, Djonga também nos convoca a reconhecer a nossa: fome de justiça, de liberdade, de memória, de cura.
Uma fome que, enquanto não for saciada, continuará a se manifestar.