Quando o assunto é skate no Brasil, o nome de Chorão não pode ficar de fora.
Mais do que vocalista do Charlie Brown Jr., ele era skatista de alma, nascido na rua e moldado pelo asfalto.

Chorão não só colocou o skate nas letras das músicas — ele viveu essa cultura com verdade. E, em um gesto raro, transformou sua paixão em espaço físico: a Chorão Skate Park, construída por ele em Santos, é até hoje símbolo de resistência, estilo de vida e comunidade.
Skate, som e atitude
“Skate pra mim é uma filosofia de vida, um jeito de ver o mundo”, disse Chorão em uma entrevista para o Altas Horas, nos anos 2000. Essa filosofia transparecia em cada letra do Charlie Brown Jr., que virou trilha sonora de pistas, sessões e da rotina de quem cresceu conectado à rua. Músicas como Zóio de Lula, Confisco e Proibida pra Mim não eram apenas hits — eram hinos.

O som da banda nasceu em meio ao universo do skate e levou essa cultura pras rádios, pros palcos e pra uma geração inteira que se reconhecia nas letras. Chorão foi o elo entre o underground e o mainstream, sem nunca trair suas raízes.
Um sonho de concreto
No começo dos anos 2000, movido pela vontade de devolver à cena o que ela lhe deu, Chorão resolveu criar a Chorão Skate Park. Localizada na Zona Noroeste de Santos, a pista foi financiada do bolso dele — sem patrocínio, sem apoio público, sem burocracia.
Era uma pista indoor, com obstáculos bem construídos, mini ramp, quarter, corrimão e muito mais. Mais do que estrutura, era o clima que fazia o lugar: som alto, grafite nas paredes, cultura urbana viva em cada canto. Shows, encontros, campeonatos. Era um centro de convivência, aprendizado e acolhimento — especialmente pra quem estava começando no skate e buscava um espaço de pertencimento.
Berço de uma geração
Embora grandes nomes como Cristiano Mateus e Ed Scander já tenham mencionado a importância da pista, foi a cena local que realmente brilhou por lá. Diversos skatistas da Baixada Santista passaram pela Chorão Skate Park e encontraram ali mais do que um espaço pra evoluir: encontraram inspiração e acolhimento.
Como disse o skatista Douglas Alves em uma entrevista de 2014:
“A pista era mais do que um pico. Era o Chorão dando voz pra gente. Um lugar onde você podia ser você mesmo.”
O fim do espaço
Com a morte de Chorão em 2013, a pista foi fechada pouco depois. O luto foi coletivo. Não apenas pela perda do artista, mas por tudo o que ele representava para a cultura de rua, para o skate e para a juventude brasileira.
Ainda hoje, fãs e skatistas relembram a Chorão Skate Park com carinho. Existem movimentos espontâneos para preservar a memória do espaço — seja em murais, em camisetas, ou até em vídeos e documentários.
Uma nova homenagem à beira-mar
Em 2023, dez anos após sua morte, Chorão ganhou uma nova homenagem à altura. A cidade de Santos inaugurou a Santos Skatepark Chorão, uma pista pública de skate localizada no Novo Quebra-Mar, na orla da praia. O espaço foi projetado com pistas de street e bowl, iluminação de LED e áreas para eventos, consolidando-se como um novo ponto de encontro da cena.
Além de carregar o nome do artista, a pista também abriga a sede da Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk) e um Centro de Treinamento voltado para o alto rendimento no skate e no surfe — tudo isso em um lugar com vista pro mar, onde o vento carrega um pouco da memória do Chorão.

A homenagem não é só simbólica: ela reafirma o que ele sempre defendeu. O skate como cultura viva, inclusiva e transformadora.
Hoje, o que começou como um sonho individual se transforma em patrimônio coletivo. A cidade respira skate — como ele sempre quis.